Parte I
“Algumas pessoas sorriem com os olhos”, ela pensava. “Que
lindo”. Ela não. Tinha olhos tristes.
Sempre. Daqueles que espantam. Extremamente verdes. Com os cantinhos caídos,
como se estivessem segurando a primeira gota de uma tempestade. E ela sabia.
Ela sabia que seus olhos não escondiam as noites mal dormidas, os amores
perdidos, as escolhas questionáveis. Seus olhos falavam o que não escapava pela
boca. E ela gostava. Ou melhor, amava a transparência desses seus órgãos. Não
apenas enxergavam, seus olhos gritavam. Nem o seu sorriso de canto de boca
tocava tanto. Nem as suas palavras difíceis e bonitas encantavam tanto.
Parte II
Eu me encantei por ela. Desfaleci-me. Meu corpo tremia. Era
ela. Perfeita. Com olhos de tormenta. Verdes. Verdes como a grama. Não. Verdes
como eu nunca havia visto. Como ela era mágica, desconhecida. Onde morava essa
moça que eu jamais pude encontrar? Qual a sua história. Seus olhos gritavam uma
tristeza sem fim. Quem seria a causa dos seus olhos tristes? Será que um dia
eles seriam capazes de sorrir?
Parte III
“Hey, telefone para você!” ouviu ela enquanto se afastava do
espelho, sem entender o que havia se passado.