Insônia. Eu procuro as palavras. O céu laranja e a noite
fria. Que palavra eu quero encontrar? Que palavra escorre pelas minhas mãos? O
que eu quero tanto dizer, escancarar para o mundo? Logo eu que falo tanto.
Palavras vazias, suponho. Falo tudo mas não conto nada. Todo mundo pensa que me
conhece. Mas metade do que falo é vazio. É oco. Vácuo.
Aquilo que se passa na medula dos meus sentimentos não
atinge o córtex. Mecanismo de defesa refinado. Proteção. Barreira. Que tesouro
eu quero tanto proteger? Fato: conheço-me bem a ponto de saber que o segredo
nem vale tanto trabalho. Não importa. Não interessa. Mas só assim não entrego o
jogo. Só assim impeço que os sentimentos estripem o que sobra do meu corpo. Só assim vivo.
Meu corpo é cheio de marcas. Do açoite do tempo. Da
indelicadeza própria. Mas é só a casca. Às vezes eu acho que sou uma matrioshka
(boneca russa). E sofro ecdises. Troco de pele. Troco de vida. Troco de gente.
Com isso me basto. Um café, um livro e uns óculos escuros. É que resta de uma
camada para a outra.
Eu vivo em muitos mundos mas não sei quantos deles cabem em
mim. Qual é a graça de ser uma só?
- algumas vezes quebram
minhas pernas, chutam minha cara, pisam em meus dedos. eu sobrevivo. tenho
sobrevivido. sou marcada, sim. mas faço valer cada uma das minhas cicatrizes.
/camila jam - nomepróprio
/camila jam - nomepróprio
(Título)